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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Ausência Presente

Estou aprendendo a difícil arte de falar sozinho, o que nos chamados "loucos" é rotina, em mim é uma necessidade, uma medida de auto preservação, e olhe que se pudesse comutar alguns dos flagelos pelos quais passei juro que preferia enfrentar um leão numa cela trancada.

Falar sozinho, quieto é bom, posso me dar as respostas que desejo, que quero me convencer, me dar os conselhos mais sensatos, no monólogo não há solidão, indiferença, tem um aspecto de catarse. Nela, sob a água quente do chuveiro, posso amar sem ver, sentir sem tocar, posso xingar de tudo que gostaria o vazio que ficou.

Estou aprendendo a não dizer o que não deve ser dito porque no destino não tem significado, é flecha atirada a esmo, é uma prisão que já não é mais solitária, já tem como companheiros de cela outros "eus" mais lúcidos para me orientarem, e nesse vazio vou criando pouco a pouco uma multiplicidade de "eus" até que sejamos tantos que, não cabendo no cárcere, explodamos com as paredes, grades, corpos, casas - me vem à cabeça um cogumelo nuclear - até se perder a menor de todas as minhas partes. Mas ainda há tantos espaços que seriam necessários tantas palavras, tantos "eus" que não haveria geração suficiente para se fazer em uma noite apenas.

Se pudesse voltar no tempo eu teria me dito (um dos meus "eus"): Olha cara, o jogo é assim e assim, não vá de "sangue doce" porque ali na frente tu vai ter que "matar no osso do peito", mas com certeza eu não iria escutar, sou do tipo que não aprende algumas lições, que comete os mesmos erros, seja aos 15, 25, 35, e até aos 85 será assim, é de minha natureza querer voar sem saber se tenho asas, algumas vezes voei, outras havia alguém ali para me segurar e outras ainda dei de cara no chão, tombos feios, hematomas que não se enxerga. A grande verdade é que essa multidão de "eus" não ocupa essa vastidão, suas vozes juntas, uníssonas, não alcançam os ouvidos insensíveis da ausência.

Mas se o destino me quis, ali preso no meio do nada, mudo, entupido de palavras que escapam sem voz física, transbordam, isso não significa que não estou onde quero, é preciso aprender a amar até o silêncio e tem uma frase que uma vez me disseram que diz tudo: Por mais que pareça, um silêncio nunca significou uma ausência. Que merda isso de não estar nem ali e nem aqui, não conseguir alienar-me de mim mesmo, não sentir o que quero, sentir somente o que sinto, essa torpente lembrança, de mais uma armadilha que eu já conhecia e na qual ficou mais um pedaço de mim.


LBT, em 12/04/2014.

Liberdade Trinária

Uma das certezas mais libertadoras é a de que naquela procura havia um sentido, naquelas palavras uma promessa , e naquelas "loucuras" uma razão. 

LBT,  em 24/04/2014

Realidade Alienada.

Quando mesmo longe dos olhos, dos sentidos, não sai de dentro de você, isso não é um simples constructo, e menos ainda loucura, é a mais pura realidade que resiste em se alienar, em se deixar substituir pela necessidade de seguir, de se auto-preservar.

LBT. em 08/05/2014